Os desafios de um jovem perfeccionista
9/11/2023, por Redator UniPaulistana
O elevado grau de exigência e a dedicação aos detalhes o diferenciava dos meninos de sua idade. A caixa de ferramentas de seu pai ganhou o status de “brinquedo preferido”, e desde muito cedo, demonstrava habilidade no manuseio de alicates, chaves e parafusos. Não demorou para que lhe atribuíssem a pecha do “faz-tudo”, com o honroso complemento: “faz-bem-feito”. Era admirado por isso – e gostava!
O desempenho em busca da excelência cada vez mais deixou de ser condição natural para se tornar uma obstinação em sua vida – e nem era preciso realizar esforços para isso. Firmava uma personalidade cuja repercussão extrapolava outros campos de sua atuação, desde a forma como conduzia o seu automóvel até a forma como construía suas relações afetivas.
Ainda na adolescência, ingressou numa conceituada escola para formação técnica em mecânica e logo se destacou pelo interesse e dedicação, embora a expectativa pelo melhor desempenho agravava a ansiedade, que em alguns momentos, limitava sua performance.
O ápice desse limite aconteceu na prova de conclusão, quando seria avaliado ao montar uma engrenagem num tempo estipulado. Tratava-se de um mecanismo com rolamento e muitas esferas, com certo grau de complexidade. Foi no limite do tempo que a montagem foi concluída, para o seu alivio e o contentamento de seus mestres.
Acontece que, também os perfeccionistas guardam os seus “quase irreveláveis segredos” – e esse ele me contou! O receio de não conseguir atingir o objetivo, de não concluir a montagem com todas as peças, fez com que tomasse a decisão mais inusitada de sua vida, e, até então, por sua auto exigência, inconcebível.
Algumas esferas do rolamento pareciam propositadamente “sobrarem” para lhe roubar a paciência e o discernimento. A ansiedade aumentava a cada volta do ponteiro do relógio, de modo que não lhe sobrou outra alternativa: guardou no bolso algumas esferas que naquele momento, certamente não faria nenhuma diferença ao mecanismo – e toda diferença para sua formação e o reconhecimento dos seus.
O rapaz sério e focado nos compromissos, ambicionava o reconhecimento pelos “feitos bem feitos” e suas consequentes benesses, mesmo por vezes sendo incapaz de reconhecer que o “bem feito” se tranveste de “mau acontecido”. Em sua trajetória sempre foi valorizado pela correção, pontualidade e desempenho.
Valia-se de seus referenciais como modelo, como uma espécie de certificado de qualidade e de boa performance. A admissão do escorregão nas “excessivas esferas soltas” descortina a necessidade de um rearranjo em sua filosofia pessoal, afinal, hoje ele sabe que “erros são fundamentos da verdade”.
Prof. Msc. Paulo Madjarof Filho
Psicólogo, Mestre em Psicologia e Prof. do Centro Universitário Paulistana – UniPaulistana