Coral Gogós estreia espetáculo “Gonzagas” na UniPaulistana
23/11/2023, por Tamara
O Coral Gogós estreia em novembro o seu novo espetáculo com o repertório de peso de dois grandes compositores da música popular brasileira, com muita música e histórias que celebram a genialidade de pai e filho, os Gonzagas. Em entrevista, o diretor musical e regência, Eduardo Fernandes, contou um pouco da inspiração para criar um musical baseado nos músicos, as principais inspirações e a importância do Rei do Baião e Gonzaguinha, para o cenário musical no Brasil. Confira.
1- Por que Luiz Gonzaga e Gonzaguinha foram escolhidos para serem homenageados no evento?
“São muitos os motivos pelos quais escolhemos Gonzaga e Gonzaguinha para serem homenageados, mas o principal é a qualidade musical dos dois. Ambos, pai e filho, são muito importantes na história musical brasileira. Temos aqui dois grandes compositores, que apresentam um grande contraponto: os dois são de duas gerações diferentes e criam musicalidades diferentes.
Um, Luiz Gonzaga, é o Rei do Baião. Foi ele quem inventou esse estilo musical, levando-o para o Rio de Janeiro no final dos anos 1940, início dos anos 50, popularizando a música nordestina em todo o Brasil. O sucesso foi tanto que, naquela época, todas as pessoas queriam aprender a tocar sanfona. Nos dias atuais, quando você vai dançar o forró, por exemplo, já está estabelecido na musicalidade desse ritmo a sanfona, a zabumba e o triângulo. Tudo isso foi criação do Luiz Gonzaga que, além de ser uma figura importantíssima da música nacional brasileira, tem uma obra muito vasta e com diferentes nuances.
Já seu filho, Gonzaguinha, vem no contraponto disso tudo. Ele, que é um músico de uma geração muito diferente da de seu pai. Viveu a sua juventude na época da ditadura militar. Por anos, como ativista contra o regime militar que era, usou a sua música como forma de protesto, sendo um crítico feroz. Algo diferente de Luiz Gonzaga.
Depois de algum tempo, o Gonzaguinha já começa a fazer sucesso com as músicas românticas, que ficaram popularmente conhecidas como os boleros do Gonzaguinha. As músicas “Explode coração”, “Grito de alerta”, “Sangrando”, fizeram muito sucesso, tornando-o um artista nacional muito popular. Escolhemos homenagear esses dois compositores porque gostamos muito das músicas, da história de pai e filho e acreditamos que pode dar um espetáculo muito bonito.”
2- Você tem uma conexão pessoal com a música de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha? O que esses artistas representam para você?
Tenho uma conexão muito forte com as músicas dos dois. Elas tocam para mim em lugares muito diferentes. O Luiz Gonzaga é sempre aquela música de um nordeste que você imagina, meio paradisíaco, mas ao mesmo tempo, duríssimo. Quando você pega a letra de “Asa branca”, ela retrata uma realidade do nordeste de forma muito dura e realista. Eu sou um cara nascido e criado em São Paulo, uma das minhas referências do nordeste, sempre foi o Luiz Gonzaga. E claro, as suas músicas têm uma sonoridade que convida o ouvinte a dançar. Eram músicas que estavam sempre presentes em festas que eu frequentava.
Já o Gonzaguinha, me conecto com ele por um outro lado. Quando eu era adolescente, cresci ouvindo todo esse repertório de uma crítica à ditadura militar e me identificando com a mensagem que ele queria passar. Inclusive, o Gonzaguinha traz uma modernidade e sonoridade novas para as músicas da década de 1970. Então, eram dois compositores extremamente importantes, e pessoalmente, gosto bastante.”
3- Como você interpreta a importância cultural e histórica da obra desses compositores na música brasileira?
“Os dois são fundamentais. O Luiz Gonzaga era um músico que veio do povo mesmo, do sertão nordestino para tocar sanfona para o mundo, e tornou-se uma febre. Para se ter uma ideia, na época em que fez muito sucesso, fazia-se encontros em São Januário, no campo do Vasco, com 20 mil pessoas tocando sanfona. Ele foi o responsável por criar o personagem do cangaceiro, popularizando a linguagem musical nordestina aqui no sudeste, definindo assim, um novo gênero musical.
Sem Luiz Gonzaga, talvez as músicas de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Alceu Valença e tantos outros que vieram depois do Rei do Baião, não existiriam. A influência que ele teve para as futuras gerações, mostra o tamanho da sua importância para a música popular brasileira. É, talvez, um dos maiores que temos. O Gonzaguinha também é igualmente importante. Apesar das diferenças culturais que suas músicas apresentam.
Uma vez que as músicas de Luiz Gonzaga são mais rurais, Gonzaguinha já apresenta uma música mais urbana, falando da realidade do que está acontecendo no dia a dia das pessoas que vivem ali no Rio de Janeiro na década de 1970, inclusive, se inserindo na época dos Festivais da Canção. Há dois grandes vieses nas canções de Gonzaguinha: uma é essa música socialmente engajada, com fortes denúncias sociais, e a outra, de um caráter mais romântico, que fez muito sucesso com Maria Bethânia e Elis Regina. “
4- Como você planeja manter o equilíbrio entre preservar a essência das composições originais e incorporar elementos próprios ou contemporâneos na execução dessas músicas?
“É importante entender que existe uma coisa específica ao se fazer um arranjo. Quando se pega uma música original e transpõe para um universo Canto Coral, ela já não é mais uma música original. No caso, o arranjador vai conseguir fazer um arranjo híbrido, que se encontra entre a música popular original dos Gonzagas e a interpretação dessas músicas que serão feitas pelo coral.
Então, o que estamos propondo com o espetáculo é uma recriação das músicas dos Gonzagas. E fazemos isso através da direção cênica de Reynaldo Puebla, onde escolhemos algumas músicas representativas e importantes dos Gonzagas, enquanto o Canto Coral fará a encenação de cada uma. Ou seja, não esperem um roteiro linear que vá contar a história de pai e filho ou a trajetória dos dois. O que propomos é encenar as principais músicas dos compositores, com um misto de Canto Coral, textos e encenação teatral.”
5- Na sua opinião, qual é a importância de preservar e celebrar o legado musical desses artistas para as gerações futuras?
“É fundamental, porque se tem uma coisa que o Brasil é – e sempre foi – muito bom, é na música popular. Ainda hoje, produzimos músicas muito boas. E sabendo da importância dos Gonzagas para a música nacional. Não faz nenhum sentido a gente não conhecer a nossa própria história. E, a partir desse conhecimento, conseguimos produzir coisas novas, coisas diferentes. Pode-se propor um universo de possibilidades.
Para mim, particularmente, vale muito pela qualidade musical dos dois. Quem for assistir, vai se reconhecer em várias músicas, muitas que estão apenas no imaginário das pessoas, mas muitas que ainda não conhecem. Acredito que é um espetáculo importante para poder despertar a atenção das pessoas, levando alegria e fazer refletir. Além de ser um resgate cultural de dois grandes compositores da nossa história.”
6- Que mensagem você diria para quem está em dúvida se deve ir?
Não percam! É um espetáculo muito legal e divertido. O público vai encontrar um repertório com músicas alegres, como “Felicidade bate à sua porta”, do Gonzaguinha, músicas românticas, políticas, algumas que vão recordar da época em que se dançava forró… E o melhor, é um espetáculo para todas as idades.
O coral vai cantar acompanhado de uma percussão, viola, piano, violão e sanfona. É um musical com muito ritmo, cantoria e coreografias. Um momento muito legal de resgate da memória para os mais velhos que ouviam e gostavam de Gonzaguinha e Gonzagão, e também para os mais jovens conhecerem e se divertirem cantando e dançando juntos. Ninguém vai ficar parado.”
O espetáculo tem a direção musical e regência de Eduardo Fernandes e direção cênica de Reynaldo Puebla e será exibido no Teatro da Unipaulistana, localizado na Rua Madre Cabrini 38, na Vila Mariana, nos dias 27 de novembro, 04 e 11 de dezembro, sempre às 21h.
Os ingressos custam R$30 a inteira e R$15 a meia entrada. Vendas somente online através do site: bit.ly/gonzagas-gogos