O ser humano interpreta os diversos eventos com base nas relações que estabelece e a história de vida (Wright, 2019). Vivemos em sociedade e uma das expressões mais importantes dessa relação é a política. Recentemente, o Ipee divulgou uma pesquisa de opinião pública sobre os assuntos políticos e sociais, realizada em 2021 junto a 1.008 pessoas, de ambos os sexos, nas regiões metropolitanas de todos os estados do Brasil, com a percepção que os jovens de 16 e 17 anos têm da política e de algumas instituições. Mais de 75% deles dizem confiar pouco ou não confiar no Governo Federal, no Congresso, no STF e nos partidos políticos.
A pesquisa também aponta que 56% desses jovens consideram que o debate político nas redes sociais é agressivo e intolerante; 42% não discutem política nas redes sociais por medo de serem julgados, cancelados ou tratados de forma agressiva, e 54% consideram o debate político no País agressivo. Já 71% acham que tanto as pessoas de espectro político mais à esquerda quanto mais à direita são intolerantes com quem pensa diferente.
Os dados da pesquisa não somente sugerem que esses jovens não confiam nas instituições que representam os poderes e os partidos no Brasil, mas que eles, cada vez mais inseridos na redes sociais, têm receio quanto aos possíveis impactos de posicionamentos políticos, fazendo com que prefiram o silêncio. Esses jovens podem evitar o debate em circunstâncias reais, como no ambiente familiar, escolar ou social, por associarem com intolerância e agressão.
O debate político não se limita a uma escolha partidária e ao voto em si, ele é mais amplo e essencial, como afirma Marco Aurélio Nogueira em seu livro Em Defesa da Política (Senac, 2004). Sendo a política um elemento fundamental para a construção de uma sociedade mais equânime, pautas como o racismo, a homofobia e a violência contra a mulher, entre outras, passam necessariamente pelo debate político, chegando à elaboração de leis que protejam a população contra qualquer tipo de preconceito.
Evitar a discussão política por considerar o ambiente agressivo e intolerante pode impactar na saúde mental de muitas pessoas, principalmente aquelas que estão diretamente ligadas a esses temas, gerando ansiedade, medo, tristeza, depressão e isolamento, uma vez que temem a cultura do cancelamento ou mesmo atitudes agressivas de outras pessoas. Os jovens, por estarem ais inseridos nas redes sociais, podem se tornar potenciais vítimas e adoecerem.
Considerar o contexto e a história de vida do sujeito permite compreender como a pessoa interpreta a situação e o surgimento de sentimentos negativos e comportamentos disfuncionais. O cuidado com a política é também o cuidado com a saúde mental de todos, principalmente dos jovens. Há que se avançar nos compromissos com a sociedade que se quer cuidar, assim como desenvolver uma consciência sobre o voto e respeito com a opinião alheia e diversa, no virtual e no real, pois tudo isso faz parte de um contexto político maior, que afeta a saúde mental de todos.
Jorge de Oliveira Vieira. Psicólogo, professor universitário e coordenador do curso de Pedagogia da UniPaulistana.